O mês de abril é tradicionalmente considerado mês dos Povos Indígenas. Em comemoração, o grupo de pesquisadores do Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etnohistória (LAEE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) promoveu uma videoconferência com moradores da comunidade indígena da Terra Indígena Ivaí, do Município de Manoel Ribas. Essa foi uma ação do Saberes Indígenas na Escola, um programa do Governo Federal para a formação de professores indígenas, no qual a UEM atende as 39 escolas indígenas no Paraná. A atividade foi realizada de forma on-line, pela plataforma Google Meet.
Os convidados para a videoconferência foram o Etno-historiador Lucio Tadeu Mota, que falou sobre a História da Terra Indígena Ivaí; e Isabel Cristina Rodrigues que abordou os aspectos da educação escolar indígena.
Segundo Maria Christine Berdusco Menezes, Coordenadora do Programa Ação Saberes Indígenas na Escola, núcleo da UEM, a atividade foi desenvolvida em forma de entrevista elaborada coletivamente pelos docentes do Colégio Estadual Indígena Cacique Gregório Kaeckchot e conduzida pelo professor Kaingang Everton Carneiro Cipriano, que é aluno do último ano do curso de História, Câmpus Ivaiporã. “O propósito foi o de articular a história dos Kaingang do Vale do Ivaí com a formação escolar e acadêmica dos jovens”, explica Menezes.
A entrevista foi gravada, transmitida à comunidade indígena durante o mês de abril e ficará disponível na página do facebook do Colégio.
O LAEE, seus projetos e ações
O LAEE surgiu no ano de 1990, promovendo a inserção social dos povos indígenas no estado do Paraná. É um programa interdisciplinar que reúne docentes e pesquisadores - historiadores, arqueólogos, antropólogos, pedagogos, linguistas, agrônomos, biólogos e outros profissionais - que se conectam para estudar e desenvolver projetos de pesquisa, ensino e extensão sobre a temática indígena, tendo indígenas como partícipes.
Um desses projetos é o Programa Universidade Sem Fronteiras, da Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná (Seti), do qual a UEM, desde o primeiro edital, propõe, aprova e desenvolve projetos de inovação e desenvolvimento em áreas indígenas.
Com as pesquisas na área de educação por meio do Observatório da Educação Escolar Indígena, o LAEE participa com frequência de editais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Com as contemplações, a UEM tornou-se a Instituição de Ensino Superior (IES) da região sul que mais desenvolve o trabalho de formação de professores indígenas.
Como resultado do Observatório, incluindo a formação continuada dos professores indígenas Guarani, Kaingang e Xetá, ocorreu o fortalecimento para a inserção da língua indígena, em 2012, no currículo da escola.
Hoje, a língua indígena contempla o currículo e cada comunidade tem autonomia para decidir em qual língua (indígena ou portuguesa) a criança será alfabetizada em sua forma oral e escrita.
Professores indígenas em processo de formação no LAEE. Acervo: LAEE/UEM
Mestres indígenas
Por ação do Observatório da Educação Escolar Indígena no Paraná, formou-se o primeiro mestre indígena. Florencio Rekayg Fernandes, da etnia Kaingang, ingressou como mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE) da UEM em 2014 e com apoio do Programa e do Observatório concluiu em 2016 os estudos.
Para Fernandes tornar-se mestre foi uma grande conquista. “Ser mestre é mais que um mérito, é poder contribuir com a formação de jovens e professores indígenas. Fico feliz em colaborar com o avanço e com o conhecimento do meu povo indígena do estado do Paraná".
Além dele, Isael da Silva Pinheiro e Jefferson Gabriel Domingues, ambos da etnia Guarani, concluíram o mestrado em 2018 e 2020, respectivamente.
Todos os três deram continuidade aos estudos por meio do doutorado em diferentes universidades da região sul do Brasil. Fernandes na UFPR, Pinheiro na URGS e Domingues na UEM.
“Essa iniciativa incentivou outras IES do estado para que também buscassem caminhos para a oferta de níveis mais elevados de formação para os povos indígenas”, explica Rosangela Celia Faustino, Coordenadora do Observatório.
Florencio Rekayg Fernandes, Isael da Silva Pinheiro e Jefferson Gabriel Domingues nas defesas de dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação/UEM. Acervo: LAEE/UEM
Ação Saberes Indígenas na Escola
Por meio do Programa Ação Saberes Indígenas na Escola, implantado na UEM desde 2013, a Universidade oferta formação aos professores alfabetizadores indígenas, produzindo materiais didáticos bilíngues interculturais para a melhor aprendizagem de jovens e crianças nas escolas indígenas do Paraná.
Professores Indígenas em Formação pelo Programa Ação Saberes Indígenas na Escola. Acervo: LAEE/UEM
Cuia e Vestibular Indígena
Além dos projetos desenvolvidos com as comunidades indígenas pelo LAEE, a UEM, desde 2001 faz parte da composição da Comissão Universidade para Índios (Cuia), conforme a Resolução Conjunta nº 006/2007.
Em atendimento à Lei 13134/2001 – da primeira à 5ª edição do vestibular indígena foram disponibilizadas três vagas para serem disputadas entre os índios integrantes das sociedades indígenas paranaenses e, a partir da Lei 14995/2006, todas as IES estaduais passaram a ofertar seis vagas, como cota social indígena, em todos os processos seletivos para o ingresso como aluno nas Universidades Públicas Estaduais de Ensino Superior do Estado do Paraná, para serem disputadas, exclusivamente, entre os índios integrantes da Sociedade Indígena Paranaense.
Também é de competência da Cuia organizar e realizar anualmente o Vestibular Indígena, acompanhar pedagogicamente os estudantes indígenas dando suporte em suas necessidades e solicitações a fim de que ocorra o ingresso, permanência e conclusão dos cursos de graduação pelos indígenas no ensino superior.
Colação de grau Câmpus Maringá em março de 2020.
Entre as sete universidades estaduais a UEM é a que tem o maior número de formados, totalizando, atualmente, 26 estudantes que se graduaram em diferentes cursos como pedagogia, enfermagem, medicina, letras, história, direito, entre outros.
Atualmente, são 51 estudantes matriculados em 12 cursos presenciais e 3 cursos a distância. Nesse período de pandemia os atendimentos ocorrem de diferentes formas como visitas às Terras Indígenas, por meio do programa de inclusão digital da UEM; on-line pelo google meet; constante contato via WhatsApp, e-mail e telefone com os estudantes; envio de atividades impressas, via correio; monitorias on-line, e outras formas de atendimentos, conforme as demandas.
Professora Isabel Cristina Rodrigues em atendimento ao aluno Everton Carneiro Cipriano, na Terra Indígena Ivaí em fevereiro de 2021.
Essas atividades têm sido possíveis com o apoio da Pró-Reitoria de Ensino e Graduação (PEN) e de outras instâncias da UEM, dos coordenadores de curso, dos professores das disciplinas, da Cuia Ampliada e da Associação dos Universitários Indígenas (AUIND).