HUM destaca-se pela capacitação dos profissionais no acolhimento, identificação e diagnóstico de morte encefálica
Setembro é marcado por ser o mês da conscientização sobre a importância da doação de órgãos e tecidos para transplantes, conhecido como Setembro Verde. O dia 27 do mês é dedicado ao Dia Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos. O Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), destaca-se pelo seu papel na assistência aos familiares e nos cuidados com o potencial doador, além do preparo dos profissionais que atuam no processo de doação de órgãos e tecidos para transplantes e por ser um centro transplantador de Córneas.
SIHDOOT/CIHDOTT
O HUM, por meio do Serviço Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (SIHDOOT) e da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT), presta assistência humanizada e individualizada no acolhimento dos familiares a fim de oferecer a possibilidade da doação de órgãos e tecidos de forma livre e esclarecida, explicando as dúvidas.
A equipe conta com apoio de assistentes sociais, psicólogos, médicos e enfermeiros como membros efetivos do Serviço de Doação. Responde pela coordenação a enfermeira Rosane Almeida de Freitas e os membros são Ellen Catarine Cabianchi, João Vitor Rosa Ribeiro, Maria Aparecida Pinheiro da Silva, Daniela Grignani Linhares e Renata Nogueira de Moura.
Os objetivos são exercer atividades de educação em saúde intra e extra hospitalar, de modo a sensibilizar a comunidade, e ensinar futuros profissionais de saúde. O Serviço/Comissão é responsável por identificar e detectar potenciais doadores de órgãos e tecidos dentro da instituição hospitalar por meio da busca ativa diária.
Os potenciais doadores são aqueles pacientes sem contraindicações clínicas, que sofreram parada cardiorrespiratória (PCR), sendo nesse caso possível doar apenas tecidos como córnea, vasos, pele, ossos e tendões; e pacientes com lesão encefálica grave e irreversível evoluindo para morte encefálica (ME), podendo doar coração, pulmão, fígado, pâncreas, intestino e tecidos. Em vida, uma pessoa também pode doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou parte da medula óssea.
A SIHDOTT/CIHDOTT acompanha todo o processo de determinação de morte encefálica feito por médicos habilitados, realiza o acolhimento e entrevista familiar além de participar de todo o processo de doação, captação de órgãos e tecidos até a devida reconstituição e entrega do corpo para a família. Todo o trabalho é realizado em parceria com a Organização de Procura de Órgãos (OPO- Maringá) e a Central Estadual de Transplantes do Paraná (CET- Pr).
Membros da CIHDOTT, que prestam assistência humanizada e individualizada no acolhimento dos familiares
Lista de Espera
Segundo a coordenadora Rosane de Freitas, há uma discrepância entre a fila de espera e o número de doações efetivadas. Com o advento da pandemia Covid-19, o número de doações efetivas diminuiu por contraindicações clínicas. Assim, neste ano, no cenário pós-pandemia, a lista de espera conta com 57.347 pessoas, sendo 33.618 para órgãos e 23.729 para córneas.
Freitas aponta que a necessidade de isolamento social, a diminuição dos horários para visitas e impossibilidade de estar mais em contato com as famílias dos potenciais doadores durante a pandemia, dificultou o processo de esclarecimento e consequentemente de doação. Nesse cenário pós-pandemia, as famílias ainda resistem em aceitar a doação de órgãos. No período pré-pandemia (2019), o índice de recusas no Brasil era de 39% e agora passou para 49%.
Alguns fatores que levam à negativa são: incompreensão do diagnóstico de ME; desconfiança no processo de doação de órgãos; dissenso familiar; problemas no atendimento antes e durante a internação; desconhecimento da vontade do doador e da impossibilidade de conhecer o receptor; questões religiosas, assistenciais e logística-estrutural como, por exemplo, o tempo para realização de todo o processo.
Em contrapartida, os fatores que levam ao consentimento são: profissional habilitado, sensível e humano; conhecimento da família quanto ao desejo do doador; separação entre a comunicação da má notícia e solicitação da doação.
Conhecer ambas as questões é de suma importância para a elaboração de estratégias para melhorar os processos de trabalho, diminuir as recusas e consequentemente diminuir a fila de espera por um transplante.
O trabalho de transporte de órgãos para transplantes requer a participação de profissionais muito qualificados
Dados do Paraná
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, no período de janeiro a junho de 2023, foram registrados 460 doadores, perfazendo assim o maior número de doações efetivas de órgãos para transplantes no país. No Paraná 2.898 pacientes estão aguardando, sendo 1.810 para órgãos e 1.088 para córneas. O estado ainda possui o menor índice de recusa familiar no país (29%). Esses números são resultados da capacitação, preparo e transparência dos profissionais de saúde envolvidos.
Caso do apresentador Fausto Silva
Por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), os transplantes não geram custos aos pacientes, respeitam uma fila única do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e independe da condição socioeconômica do indivíduo. A fila funciona por ordem cronológica de inscrição, mas também são levados em consideração alguns fatores, como gravidade, compatibilidade sanguínea e genética entre doador e receptor.
O paciente só é inserido na lista após ter seu estado de saúde avaliado pela equipe médica. Cada estado/região organiza a sua própria lista e todas são monitoradas pelo sistema e outros órgãos de controle federais. A fiscalização é feita para que nenhuma pessoa conste em duas listas diferentes e nenhuma norma legal seja desrespeitada. Em caso de não ter paciente compatível naquele estado e a família concorde, o órgão é disponibilizado para a lista nacional, dando prioridade para o estado mais próximo, por conta do tempo de validade do órgão desde a sua captação até o transplante.
Para os pacientes que aguardam por um transplante cardíaco, como o apresentador Fausto Silva, “Faustão”, a prioridade máxima é para casos em que o paciente necessita de assistência circulatória. A equipe transplantadora é quem tem autonomia para avaliar o órgão e as também questões como: o tempo que o órgão levaria para chegar ao receptor, lembrando que a durabilidade de um coração após a captação até o transplante é de apenas 4 horas; compatibilidade anatômica peso/altura e se o paciente que vai recebê-lo está em condições clínicas de passar por um transplante.
Faustão foi priorizado devido ter atendido critérios de compatibilidade sanguínea, anatômica e de gravidade. Havia 12 pessoas na lista que atendiam os requisitos, o apresentador era o segundo dessa lista de prioridades. Embora a notícia tenha sido divulgada semana passada, Faustão encontrava-se internado e já tinha ciência da necessidade de um transplante, sendo cadastrado na lista de espera por um transplante cardíaco. Os pacientes com prioridade alta esperam em média 30 dias por um transplante, não 18 meses como foi divulgado; este segundo tempo de espera é para pacientes não priorizados.
Os pacientes submetidos a um transplante recebem medicamentos imunossupressores, para baixar a imunidade para que quando o órgão seja transplantado não ocorra risco de rejeição. No caso de uma infecção, como o cantor Márcio André Nepomuceno Garcia, o “MC Marcinho”, não há como fazer o uso de imunossupressores, sendo o transplante contraindicado até que a infecção seja tratada.
Rosane de Freitas explica que cabe aos profissionais de saúde atuantes na área de doação/transplantes serem multiplicadores de informações corretas e éticas, para evitar a desinformação e o descrédito no processo. O Setembro Verde é essencial para a realização de atividades de educação em saúde buscando sanar dúvidas e desmitificar o tema.
A equipe da CIHDOTT numa das campanhas do setembro verde (Rosane é a segunda da esquerda para a direita)
*Texto redigido com a supervisão dos jornalistas da Assessoria de Comunicação Social (ASC)