O curso de agronomia do câmpus sede da Universidade Estadual de Maringá (UEM) completou 45 anos em julho deste ano. O aniversário será festejado junto com o dia do engenheiro agrônomo, comemorado no dia 12 de outubro.
O Departamento de Agronomia da UEM preparou uma programação especial de cinco dias para celebrar as duas datas. As atividades começam nesta segunda-feira (10) com a apresentação da linha do tempo da criação do curso. Além disso, estão previstos para a semana a inauguração da Galeria de Fotos dos professores, o lançamento da Revista 45 anos da Agronomia, um jantar comemorativo, o plantio de árvore e para finalizar uma grande festa de confraternização, no sábado (15), com alunos veteranos, calouros e já formados.
Uma oportunidade de reunir várias gerações da agronomia da UEM e promover muita troca de experiência, segundo o chefe do Departamento de Agronomia, William Mário de Carvalho Nunes (Foto ao lado). "O objetivo da comemoração dos 45 anos é fazer com que todos os ex-alunos, com a experiência adquirida, possam compartilhar o conhecimento para melhorar nossa graduação. Essa interação fará com que o corpo docente se integre com a sociedade visando melhorar o atendimento ao agricultor e oferecer um curso de mais qualidade”, explicou.
Pois, vários ex-alunos estão atuando em grandes empresas ligadas ao agronegócio e podem trazer um panorama do mercado de trabalho, principalmente de Maringá e região onde há espaço para continuar se desenvolvendo, como conta o chefe do departamento. “Com esse evento nós queremos homenagear os docentes do curso, os já falecidos, os aposentados e os que ainda estão na ativa. E também registrar e resgatar a importância deles e da Agronomia para a cidade. Maringá não seria o que é sem a contribuição desses engenheiros agrônomos formados pela UEM, que lideraram e ainda lideram empresas, cooperativas e órgão vinculados ao Agro”, enfatiza William.
É a primeira vez que será realizada uma comemoração reunindo alunos e ex-alunos de Agronomia da UEM. Os egressos estão espalhados pelo país e também pelo mundo. Mesmo assim, o número de participantes que confirmaram presença surpreendeu até os organizadores. William conta que a expectativa é alta e que todos estão ansiosos pelo encontro, principalmente aqueles que fizeram parte das primeiras turmas e não se veem há muito tempo. Não faltarão histórias para relembrar.
Confira aqui a programação completa.
Veterano
Domingos Pereira Neto ((Na foto ao lado), de 70 anos de idade, certamente tem muito a contar sobre os 45 anos do curso de Agronomia da UEM. Ele foi aluno da primeira turma. Se formou há 41 anos e faz questão de participar da festividade. Atualmente, mora em Lages, Santa Catarina, e foi o primeiro a confirmar presença na comemoração.
O agrônomo, hoje aposentado, trabalhou em diversas cidades catarinenses, inclusive fez parte da equipe da defesa sanitária da Companhia de Desenvolvimento Agropecuária de Santa Catarina (CIDASC). Além disso, cultivou maçãs por 27 anos em uma propriedade em São Joaquim, SC. Onde, em fevereiro de 1983, recebeu a visita do professor Lineu Krul Guasque, que na época lecionava a disciplina de adubos e adubação no curso de Agronomia da UEM. O professor acompanhou o ex-aluno, colocando em prática o aprendizado na colheita de maçãs gala. O encontro ficou registrado na memória e na fotografia (Abaixo).
Agora é o “seu” Domingos quem repassa o conhecimento para os mais jovens. Embora aposentado, presta consultorias em fruticultura temperada e defesa sanitária vegetal. “Eu acredito muito na Agronomia, ainda mais porque sou da primeira turma, pois ajudamos muito nas discussões do currículo mínimo. Posteriormente, foi aglutinando, nesta luta de melhoria do currículo, os calouros que muito contribuíram com os objetivos maiores do curso”, conta Domingos.
O conselho dele para quem está iniciando na carreira é nunca parar de buscar conhecimento. “Eu sempre digo para estudar e estudar cada vez mais, porque sempre vai ter lugar para os que dominarem com melhor desempenho os assuntos em questão”, alerta.
Aperfeiçoamento
No grupo dos novatos ávidos por conhecimento está a Carolina Costa Rodrigues (Na foto ao lado), de 17 anos de idade. Ela conta que decidiu cursar Agronomia na UEM pela qualidade de ensino. “Eu escolhi o curso porque me interesso muito pela área e a UEM é uma universidade muito boa e renomada”, diz ela que está no primeiro semestre e bastante animada com as aulas.“A minha expectativa com o curso é alta. E até agora está cumprido com elas, estou adorando o curso”, declara a universitária.
Segundo o chefe do departamento, o curso merece a fama. Para chegar ao patamar atual de estar entre os melhores cursos de Agronomia do mundo foi feito muito investimento na preparação dos professores. “Com a capacitação do corpo docente, que foi fazer mestrado, doutorado, conseguimos melhorar a formação do aluno da graduação e criamos os programas de pós-graduação. Atualmente são três: o Programa de Pós-Graduação em Agronomia (PGA), o Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento (PGM) e o Programa de Pós-Graduação em Agroecologia - Mestrado Profissional (PROFAGROEC). Eles surgiram graças a capacitação dos docentes, e hoje estão estão entre os melhores do país. Na graduação estamos entre os dez melhores cursos de agronomia. Mas o objetivo é estar entre os cinco na comemoração de 50 anos do curso”, declara William.
A expectativa é compartilhada pelo coordenador-adjunto do curso, Telmo Antonio Tonin. “A UEM sempre foi muito ousada. O curso de agronomia também é muito ousado. Então nós tivemos o estímulo da capacitação dos professores. Lembro da década de 90, quando 50% do corpo docente do curso de agronomia estava afastado para os cursos de mestrado e doutorado. Vale destacar também que hoje o aluno de graduação pode sair daqui com pós-doutorado. A universidade oferece essa possibilidade de continuar se profissionalizando e se aperfeiçoando aqui mesmo”, enfatiza Tonin.
Maringá
O sucesso do curso também tem relação com Maringá, uma cidade cheia de recursos naturais disponíveis para estudo. Quando perguntado sobre as vantagens de cursar agronomia na UEM, Tonin (Na foto ao lado) é categórico em destacar que além do investimento em capacitação, a região contribuiu muito para a formação do profissional.
“Por tudo que nós já falamos, não é à toa que o curso seja de excelência. Investimos muito, nos dedicamos na capacitação, mas também pela inserção regional muito forte. Nós temos aqui na região de abrangência de Maringá, que dá mais de 1 milhão de habitantes, inúmeras atividades agrícolas que são desenvolvidas porque o solo e o clima são favoráveis. Nós temos ao lado da nossa universidade verdadeiros laboratórios a céu aberto, que são ambientes de aprendizagem que nós valorizamos bastante. Nós temos as principais cooperativas agrícolas da América Latina e temos excelentes centros de pesquisa. Além de inúmeras empresas multinacionais que atuam aqui na região. Uma coisa que eu nunca vou deixar de falar é de Maringá. Eu não vejo a UEM sem Maringá e Maringá sem a UEM. Então, imagine você ter o privilégio de estudar um curso e morar na cidade de Maringá com todas essas possibilidades”, ressalta o coordenador.
Ele diz ainda que tendo esse curso de nível tão alto disponível em uma universidade pública os jovens não precisam mais se deslocar para outras cidades ou estados para estudar. E, posteriormente, podem aplicar o conhecimento localmente, participando do desenvolvimento de Maringá.
Aliás, formar profissionais de excelência que podem continuar trabalhando e desenvolvendo melhorias na região, é uma maneira de retribuir os recursos oferecidos pela cidade. “Primeiro nós estamos inseridos numa região que é essencialmente agrícola. Então, nós não pensamos só na área de abrangência do município de Maringá, mas em toda a região Noroeste, que é uma região produtora de alimentos e produtora de commodities também. Acredito que o primeiro benefício seria colocar à disposição da sociedade mais profissionais competentes no agronegócio”, explica o coordenador-adjunto.
O chefe do departamento acrescenta que “não queremos apenas formar um bom aluno, nós queremos ter interação. Nós vamos investir bastante em parcerias público-privadas. Nós queremos estar com a sociedade. A maior contribuição que o curso dá à população é a formação do profissional na área agrícola. Mas além disso, nós formamos cidadãos, porque não é só formar tecnicamente, é formar pensando no todo, nas questões sociais, econômicas, ambientais. Nossas ações têm que ser pautadas nesses requisitos porque nós temos que pensar no todo e não só no nosso negócio”, ressalta.
Pioneirismo
Na busca pela excelência e novas descobertas, os pesquisadores se uniram a outras áreas. O departamento de Bioquímica e o departamento de Agronomia formaram uma equipe multidisciplinar de estudos da planta Stevia Rebaudiana, encontrada na região de fronteira entre o Brasil e o Paraguai, e há muito tempo usada pelos índios para adoçar bebidas.
O grupo liderado pelo professor Mauro Alvarez (já falecido), doutor em bioquímica, desenvolveu uma tecnologia para fabricação comercial de adoçantes à base de Stevia. Hoje, a pesquisa é utilizada por diversas indústrias alimentícias.
A descoberta rendeu a primeira patente da UEM concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em 1989. “Deu uma identidade para o curso de Agronomia, motivou também a pesquisa. Acho que a UEM é o tripé ensino-pesquisa-extensão, então talvez essa patente tenha estimulado os colegas para gerar mais pesquisa, mais processos. Foi a primeira de muitas que depois a UEM conseguiu, abriu o caminho”, relembra Tonin.
Mulher na Agronomia
O curso também está avançando na questão de gênero. A área que antes era predominantemente masculina, nos últimos anos passou a ser ocupada também pelas mulheres. Carolina Costa Rodrigues, 17 anos, aluna do primeiro semestre, conta que encontrou um ambiente que caminha para ficar mais equiparado, tanto na sala de aula quanto no corpo docente. “Mesmo na minha turma já tendo mais meninas do que tinha antigamente, ainda predominam muitos homens, principalmente em cargos de diretoria, mas eu acho que isso tende a dar uma equilibrada nos próximos anos. Assim, o desafio, para nós mulheres, não é tão grande quanto era no passado. Já vejo muito apoio do lado dos professores para nós cursamos agronomia”, comenta a estudante.
A primeira engenheira agrônoma formada pelo curso de agronomia da UEM foi a Lisete Lauren da Costa, em 1982. Até meados dos anos 90 continuava um curso predominantemente masculino. Atualmente, 30% dos estudantes de agronomia da UEM são mulheres. A representatividade feminina também está presente na liderança. Na semana passada, a professora Reni Saath assumiu a coordenadoria do curso de Agronomia (Foto baixo).
Futuro
O curso de Agronomia da UEM já formou até 31 de maio de 2022 2.360 engenheiros agrônomos. E tem os matriculados no câmpus sede 441 alunos. A expectativa, segundo Tonin, é continuar formando profissionais de excelência e tornar o curso sempre mais atrativo. “Tem mais de 530 cursos de agronomia no Brasil. Nós oferecemos 100 vagas. Queremos que nosso curso seja cada vez mais atrativo no sentido de que os alunos sintam-se seguros ao optar pela UEM, tendo a certeza que de vão ser bons profissionais e vão acessar o mercado de trabalho”, explica o vice-coordenador.
Ele adianta que para isso dois projetos estão sendo idealizados. Um é ampliar parcerias com instituições internacionais, como o programa de mobilidade acadêmica, que hoje a UEM faz parte junto com os países do Mercosul (Marca), e possibilita o intercâmbio de alunos. A meta é expandir para outros continentes, estabelecer convênios para chegar a uma dupla diplomação, oportunizando ao estudante ter o diploma da UEM e ao mesmo tempo ter outro de uma Universidade européia ou americana.
Também está nos planos da diretoria criar uma residência técnica na área agronômica, a exemplo do que acontece no curso de medicina. Ou seja, assim que concluir a graduação o estudante poderá ingressar no programa de residência. “Desafios não faltam, vontade e comprometimento também não”, assegura o professor.