Os universitários indígenas da Universidade Estadual de Maringá (UEM), de todas as universidades estaduais paranaenses e da Universidade Federal do Paraná (UFPR), recebem apoio permanente da Comissão Universidade para os Índios (Cuia) da Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), desde antes do processo seletivo, realizado anualmente, até a formatura.
A Cuia cuida do processo de ingresso e inclusão deles, além de fazer o acompanhamento didático-pedagógico. Compete também à comissão: elaborar e desenvolver projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão envolvendo os estudantes e suas comunidades; sensibilizar e envolver a comunidade acadêmica acerca da questão indígena; buscar diálogo, interação social e parcerias interinstitucionais.
Além da professora Maria Christine Berdusco Menezes, coordenadora, a comissão congrega, como membros da UEM, as professoras Rosângela Célia Faustino, do Departamento de Teoria e Prática da Educação (DTP), e Lilian Denise Mai, do Departamento de Enfermagem (DEN).
Além da Cuia, a universidade conta com o Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história (LAEE), o Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Escolar e Superior Indígena no Paraná, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais, Formação de Professores, Ação Docente e Educação Escolar Indígena e com a Associação dos Universitários Indígenas (Auind). Desenvolvem projetos voltados à educação escolar e superior junto às comunidades indígenas no Paraná, tais como o Indígenas na Web, elaborado por professores do curso de Letras e coordenado pela professora Isabel Cristina Rodrigues, também da Cuia da UEM.
Vestibular específico
As inscrições para o 21° Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná ficarão abertas até 30 de abril. As provas estão previstas para 12 e 13 de junho. O processo seletivo é organizado pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar), em parceria com as demais instituições de ensino superior estaduais, a UFPR e a Cuia.
Podem concorrer às vagas das universidades estaduais paranaenses qualquer estudante autodeclarado e reconhecido como indígena, pela liderança de sua comunidade ou representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), no caso da UFPR, que more no Paraná e não possua formação superior.
A inscrição é feita pela Internet ou por meio da entrega dos documentos de forma imprensa, pelos Correios. Optando em enviar pelos Correios, o candidato deverá imprimir a ficha de inscrição e enviá-la, junto dos demais documentos pedidos, para qualquer um dos câmpus das instituições que participam do processo seletivo. Para outras informações sobre o concurso, junto do edital de abertura, acesse a página da Unespar. O resultado final está previsto para ser publicado em 7 de julho.
Cotas na pós-graduação
Além da formação de graduados, a UEM também formou o primeiro mestre indígena no Paraná: Florêncio Rekayg Fernandes, da etnia Kaingang. Após ele, formou dois pesquisadores da etnia Guarani: Isael Pinheiro e Jefferson Domingues. Os três mestres formados pela UEM, sob a orientação de Faustino, atualmente estão concluindo seus doutorados, sendo um na UEM e dois em universidades federais. A iniciativa dessa formação foi do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPE).
Com a intenção de que outros formados interessados em seguir na carreira acadêmica continuem na UEM, para se tornarem pesquisadores e futuros professores, alguns programas de pós-graduação contam com sistemas de cotas como política de permanência. Os exemplos, além da Educação, são: Administração; Ciências Sociais; História, mestrado profissional em Ensino de História; e Psicologia.
Autonomia e formação dos indígenas
A Auind foi fundada em 26 de abril de 2018 para fortalecer a autonomia, acompanhar e debater propostas em prol de melhoria do ingresso, permanência e formação dos indígenas da UEM. Com apoio da Cuia, tem oferecido suporte desde o ingresso dos estudantes indígenas na graduação até a formatura. “Sempre recebemos incentivo à autonomia das nossas questões dentro da instituição”, menciona a representante da Auind, Alciléia Miriã Claro, acadêmica de Enfermagem da UEM.
Apesar de todo o apoio da Cuia, de professores e colegas, Alciléia acredita que universitários indígenas sofram dificuldades em todo o Brasil. “O preconceito é muito dolorido de sentir, ainda mais em um ambiente que temos de estar todos os dias”. Acrescenta que já ouviu que eles “tomam vagas” de outros, sendo que na realidade os indígenas ingressam mediante vagas suplementares e tem “o mesmo direito de todos de estar ocupando esse espaço”. Para a indígena, outro obstáculo é a distância da família, que geralmente permanece nas aldeias. “Muitos indígenas deixam seus filhos e cônjuges na busca do estudo para a melhoria de sua comunidade. Morar numa cidade que muitas vezes nunca tínhamos visitado, estando sozinhos, acaba gerando tristeza e ansiedade, não contribuindo no processo pedagógico”, desabafa.
Alciléia acrescenta que “o choque cultural, as dificuldades financeiras e os desafios para concluir os estudos” são fatores que aumentam a evasão, algo que tem sido contornado pela Cuia. Apesar disso, a acadêmica mantém a expectativa de “ter o tão sonhado diploma” e retornar para a sua terra indígena para proporcionar “o melhor para nossas comunidades por meio da profissão que escolhemos”.
Mês de reflexão – Alciléia acredita que o mês de abril serve para conscientização e lembranças de lutas e resistências dos seus antepassados e das guerras atuais das lideranças indígenas em busca sempre de melhoria para as suas comunidades. “Neste mês, que para muitos comemora-se apenas o Dia do Indígena, para nós, não. Não queremos parabéns nesta data, queremos reconhecimento e respeito e que nossas lutas sejam vistas como legítimas", conclui.